Gênero e feminismo para cristãos capixabas: um estudo de representações sociais

Nome: ANA CAROLINA CAETANO TAVARES MOREIRA
Tipo: Dissertação de mestrado acadêmico
Data de publicação: 21/09/2020
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
SABRINE MANTUAN DOS SANTOS COUTINHO Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
DIEMERSON SAQUETTO Examinador Externo
MARIA CRISTINA SMITH MENANDRO Examinador Interno
MARIANA BONOMO Suplente Interno
PAULO ROGÉRIO MEIRA MENANDRO Suplente Interno
SABRINE MANTUAN DOS SANTOS COUTINHO Orientador

Resumo: A temática de gênero constitui um fenômeno amplamente discutido em diversos estudos nas áreas das ciências humanas e sociais ao longo dos últimos anos e, recentemente, tem tido seu debate aumentado nas mídias e redes sociais no cenário brasileiro, alcançando de forma mais direta também o cotidiano. Por se tratar de um tema hodierno, diretamente relacionado com o contexto cultural, político, econômico e social, a noção de gênero pode apresentar uma diversidade de significações nos mais diferentes espaços/contextos. Apesar disso, identifica-se o predomínio de uma visão mais tradicional a esse respeito entre diversos grupos, como é o caso dos grupos religiosos que, em geral, tem muito claramente definido o que é próprio para o homem e para a mulher. A presente pesquisa teve como objetivo geral investigar as representações sociais (RS) de gênero e de feminismo de cristãos católicos e evangélicos (de diferentes denominações) residentes na região metropolitana da Grande Vitória, Espírito Santo. Para tanto, foram realizados dois estudos complementares. O primeiro estudo, que teve como objetivo identificar conteúdos de RS de gênero para cristãos praticantes e verificar se as significações e atitudes em relação a papéis sociais masculinos e femininos variam de acordo com a religião, a faixa etária e o sexo, contou com 257 participantes, de ambos os sexos, que responderam a um questionário estruturado com afirmações sobre características, atribuições e papéis de gênero. Os dados foram organizados e submetidos a análises estatísticas exploratórias descritivas com o auxílio do software SPSS. De maneira geral, identificou-se que ainda existem alguns traços que são mais fortemente associados às mulheres – como emotividade e cuidado – e outros que são mais atribuídos aos homens – como liderança e agressividade. Os resultados também apontaram possíveis avanços relacionados ao lugar de homens e mulheres no ambiente familiar e na esfera pública (trabalho e igreja). Apesar de tais avanços, algumas ‘resistências’ também foram evidenciadas, o que parece indicar que, entre os participantes, há uma coexistência entre noções mais modernas e outras mais tradicionais. O segundo estudo foi composto pela realização de entrevistas semiestruturada com 23 participantes que atuam como lideranças em igrejas/comunidades cristãs, e teve como objetivo investigar como esses indivíduos têm compreendido e vivenciado questões relativas à gênero e à feminismo, e verificar como se dá a produção das representações sociais sobre tais temas. O roteiro contou com questões sobre dados pessoais, significações de gênero e de feminismo, visão destas questões no meio religioso e em outros grupos de pertencimento, entre outras. Os
dados das entrevistas foram organizados em dois corpora, separados de acordo com os objetos (gênero e feminismo), a fim de alcançar uma análise mais minuciosa sobre cada um deles, e para tanto foi empregada a Classificação Hierárquica Descendente (CHD) e a Análise Fatorial de Correspondência (AFC), com o suporte do software IRaMuTeQ. O corpus sobre gênero resultou em 5 classes e o corpus feminismo originou 6 classes. Em relação as RS de gênero, os resultados apontaram que as compreensões sobre ser homem e ser mulher se mostram ancoradas em papéis familiares / tradicionais e em aspectos de uma suposta “natureza” feminina e masculina; além disso, evidenciaram as apropriações e controvérsias que giram em torno da temática de gênero, de modo geral, e de outras mais específicas, como a questão da “ideologia de gênero”. Sobre as RS de feminismo, os resultados assinalam que, para a construção do campo representacional os participantes ancoram suas significações em movimentos que buscam transformações sociais, sejam essas avaliadas de forma positiva (como a igualdade salarial entre homens e mulheres) ou de forma negativa (como a igualdade entre homens e mulheres em ‘todos’ os sentidos), e objetivam o feminismo em elementos imagéticos como descaracterização mulher, destruição da família, entre outros. É importante ressaltar também que subgrupamentos constituídos pelas classes não apenas formaram categorias semânticas, mas também destacaram marcas da atividade representacional, e dessa forma, foi proposto como hipótese explicativa que essa diferenciação aconteceu em razão do discurso dos participantes acerca dos objetos de estudo recorrerem simultaneamente aos dois sistemas de pensamento propostos por Moscovici. Assim, o “estado de polifasia cognitiva” foi evidenciado nesta pesquisa, corroborando outras investigações recentes que enfocaram esse conceito. Por fim, a articulação dos estudos se deu considerando dois eixos de discussão: um sobre os avanços identificados e outro sobre as resistências à mudanças a respeito das questões de gênero e de feminismo. Espera-se que os achados dessa dissertação tragam contribuições para o entendimento de como os papéis sociais de gênero e a temática de feminismo tem sido entendidas por religiosos cristãos, e em alguma medida, também forneçam indicações sobre como tais questões têm sido entendidas na atual conjuntura brasileira de forma mais ampla.

Palavras-chave: gênero; feminismo; religião; representações sociais; TRS; polifasia cognitiva; Iramuteq.

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