Ideologia em ação: representações sociais de cotas universitárias na imprensa
e para professores universitários

Nome: ELISA FABRIS DE OLIVEIRA
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 29/06/2021
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
EDINETE MARIA ROSA Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ANA MARIA JUSTO Examinador Externo
EDINETE MARIA ROSA Orientador
GUSTAVO HENRIQUE ARAUJO FORDE Examinador Externo
MARIA CRISTINA SMITH MENANDRO Examinador Interno
RAFAEL DA SILVA PAES HENRIQUES Examinador Externo

Resumo: A presente tese teve como objetivo geral investigar as representações sociais de cotas universitárias, a partir da abordagem societal, compreendendo o papel da ideologia na formação desse conhecimento do senso comum. Para isso, foram realizados dois estudos independentes e complementares. O Estudo 1, denominado “Representações Sociais de Cotas Universitárias na imprensa Brasileira: Em Foco as Revistas Veja e Carta Capital”, teve como objetivo analisar a atuação da imprensa na constituição e disseminação dessas representações sociais. Neste estudo, foram analisados textos de colunistas, cartas de leitores, entrevistas e reportagens que contemplaram a temática das cotas publicadas nas revistas Carta Capital e Veja. Para este estudo, assumiu-se como delimitação 10 anos de publicações, sendo contemplados textos de 2008 a 2017. A coleta de dados foi realizada a partir de acervos online e adotou-se como estratégia para busca do material as palavras-chave: cota e cotas. A pesquisa retornou 96 textos publicados pela Carta Capital e 103 pela Veja, que foram analisados a partir de estatísticas clássicas, similitude, especificidades e Classificação Hierárquica Descendente, como auxílio do software Iramuteq. Verificou-se dissensos entre as representações sociais dos dois veículos: enquanto a Carta Capital reforçou o caráter de luta, engajamento, busca pela igualdade social, assumindo um posicionamento a favor da política de cotas; Veja reforçou aspectos de injustiça, de rompimento com a meritocracia e o viés político-partidário das cotas, associando-a ao Partido dos Trabalhadores e destacando o papel do Supremo Tribunal Federal na validação da medida. Os resultados possibilitaram identificar que a tomada de posição de cada revista em relação às cotas esteve atrelada ao viés ideológico assumido por elas: (1) Carta Capital sustentou seus argumentos a partir da fundamentação na ideia de busca pela igualdade, na necessidade de mudança da estrutura social e em conferir maior poder aos grupos minoritários - proposições essas alinhadas com a ideologia de esquerda; e (2) e já a revista Veja, além de corroborar com noções racistas compartilhadas na sociedade brasileira, esteve fundamentada no ideal meritocrático, no mito da democracia racial e com perspectiva mais conservadora, de manutenção das hegemonias e estruturas sociais vigentes - conceitos esses propagados pela ideologia de direita. O Estudo 2, denominado “Representações Sociais de Cotas Universitárias para Professores da Universidade Federal do Espírito Santo”, teve como objetivo, por sua vez, investigar a atuação da ideologia-partidária nas tomadas de posição frente às representações sociais de cotas universitárias, tendo como público de análise professores da Universidade Federal do Espírito Santo. A pesquisa foi realizada em duas etapas, integrando abordagens quantitativa e qualitativa. A primeira, desenvolvida a partir da aplicação de um questionário, contou com 183 professores de 15 departamentos diferentes. Os dados permitiram caracterizar o perfil dos participantes, bem como identificar possíveis associações entre suas características ideológico-partidárias e o posicionamento assumido frente às cotas na graduação e na pós-graduação. Entre os resultados, destacam-se diferenças significativas, identificadas por meio do teste do qui-quadrado, na associação da variável ‘posicionamento sobre as cotas’ com ideologias político-partidárias e ‘área de atuação’. Em relação ao primeiro caso (‘posicionamento sobre as cotas’ vs. ‘ideologia partidária’), verificou-se que professores de esquerda foram mais unânimes em serem a favor das cotas; assim como os contrários, com maior frequência, seguiam uma ‘ideologia partidária’ de direita. Em relação à segunda análise (‘posicionamento sobre as cotas’ vs. ‘área de atuação’), identificou-se que os participantes a favor, com maior frequência, eram da área de Ciências Humanas e de Ciências Sociais Aplicadas; e já os contrários, em geral, eram das Engenharias e das Ciências da Saúde e das Ciências Sociais Exatas e da Terra. No segundo momento do Estudo 2, foram realizadas entrevistas com nove professores, organizados em dois grupos: (1) professores favoráveis e (2) professores contrários às cotas universitárias. O grupo favorável apresentou viés ideológico de esquerda, avaliou a ação afirmativa como uma forma de promover a igualdade social e reconheceu os critérios de baixa renda, escola pública e de raça como fundamentais para compreensão das cotas. Os professores contrários à política de cotas, por sua vez, posicionaram-se como liberais em termos econômicos e conservadores nos “costumes”, estiveram embasados no ideal meritocrático, e manifestaram a visão das cotas como uma ação paliativa, política e populista. Esses participantes também manifestaram o papel do conflito grupal que envolve a ação, entendendo cotistas e não cotistas como estudantes com experiência universitária bastante distinta. Como conclusão, por meio da tese desenvolvida, foi possível demonstrar a atuação da ideologia político-partidária na constituição das representações sociais de cotas, seja para a sociedade em geral (conforme dinâmica analisada em veículos da imprensa), seja para professores universitários, participantes do estudo. A partir da discussão integrada dos resultados, foi possível problematizar os efeitos dessa dinâmica, destacando a importância do debate público e do enfrentamento de narrativas conflitivas sobre as ações afirmativas no Brasil para promoção de processos de mudança social.

Palavras-chave: cotas universitárias, cotas raciais, representações sociais, ideologia, imprensa

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