Fixação do Olhar e Ansiedade em Autistas Adultos: Um Estudo de Casos
Múltiplos Sobre Experiências Privadas em Interações Sociais.
Nome: JULIANA PINHEIRO RAMOS
Data de publicação: 29/08/2023
Banca:
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Papel |
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CLAUDIA BROETTO ROSSETTI | Examinador Interno |
MARIANE LIMA DE SOUZA | Presidente |
MÔNICA COLA CARIELLO BROTAS CORRÊA | Examinador Externo |
Resumo: O déficit na comunicação e na interação social é uma das principais características para o
diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a dificuldade na fixação do olhar se
apresenta como um sintoma marcante em pessoas com autismo associando-se à ansiedade e
comumente a prejuízos em diversas áreas sociais na vida do indivíduo. Portanto, se faz
importante aprofundar a investigação sobre a dificuldade que os autistas adultos encontram nas
interações sociais por meio de relatos sobre suas experiências privadas, sobretudo em situações
face a face que envolvem a fixação do olhar e sua relação com a ansiedade, ainda pouco descritas
na literatura científica, especialmente a partir de uma abordagem qualitativa. Neste sentido, o
problema de pesquisa deste estudo articula-se em torno da seguinte pergunta: Qual a percepção
individual dos autistas adultos sobre a fixação do olhar durante interações sociais face a face e
como ela se relaciona com a ansiedade? Esse estudo de casos múltiplos descritivos com
abordagem de metodologia mista (quantitativa e qualitativa) apresenta a complexidade do
fenômeno por meio dos relatos sobre as experiências vivenciadas por três adultos diagnosticados
com autismo nível um de apoio, de idades entre 25 e 35 anos, que estão inseridos na sociedade.
Para a etapa de coleta dos dados quantitativos utilizando um equipamento de rastreamento ocular
(eye tracking), que registra as áreas de fixação do olhar, foi desenvolvido um protocolo que
consiste na exibição de quatro imagens sendo uma de estímulo não social (um objeto), duas com
estímulos sociais (rostos humanos) e uma com estímulo social e não social (rosto humano e um
objeto). Simultaneamente à coleta de dados do rastreador ocular, a frequência cardíaca (FC) dos
participantes foi aferida através de um frequencímetro de pulso. Os dados qualitativos foram
obtidos através de um roteiro de entrevista semiestruturada com foco no tópico “interação face a
face em situações sociais” e analisados de acordo com os critérios da fenomenologia-semiótica.
Os resultados encontrados, sugerem que a fixação do olhar é apenas um dos fatores que podem
contribuir para ansiedade durante uma situação de interação social, portanto descarta-se a
casuística nessa relação. Os dados quantitativos foram utilizados como subsídio para a análise
qualitativa, revelando que os participantes tiveram maior variação cardíaca na aferição da
frequência cardíaca durante o repouso e menor durante a exibição das imagens, o que pode ser
explicado por meio dos relatos pelas estratégias desenvolvidas pelos autistas para lidar com
situações de interação face a face. A partir dos achados da pesquisa, observou-se que durante
uma situação de interação social, a fixação do olhar associa-se a diversos fatores, como o
ambiente, as pessoas envolvidas, as sensibilidades sensoriais e as cargas emocionais
demandadas, para desencadear a ansiedade em indivíduos com autismo. Nesse sentido, destacase a importância de se considerar tais fatores para a criação de intervenções que promovam a
aquisição de habilidades importantes para a adaptação desses indivíduos em situações sociais.
Palavras-Chave: Transtorno do Espectro Autista, Contato Visual, Ansiedade, Autismo,
Adulto.