Convivendo com Residências Terapêuticas: Concepções Sociais, Processos Identitários e Relações Intergrupais

Nome: PEDRO MACHADO RIBEIRO NETO
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 15/04/2014
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
LUZIANE ZACCHÉ AVELLAR Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
ANGELA NOBRE DE ANDRADE Examinador Interno
LUZIANE ZACCHÉ AVELLAR Orientador
MARIA INÊS BADARÓ MOREIRA Examinador Externo
MARIANA BONOMO Examinador Interno
TERESINHA CID CONSTANTINIDIS Examinador Externo

Resumo: Elaboramos a tese com objetivo de analisar as relações intergrupais no contexto da convivência com Residências Terapêuticas (RTs). Por meio de perspectiva etnográfica com entrevistas e observações, pesquisamos as concepções de habitantes de um bairro que recebe três Residências Terapêuticas sobre a convivência com estes dispositivos e a interação com os moradores das RTs nos espaços públicos. Foram realizados três estudos complementares. No primeiro estudo, exploramos as concepções dos participantes sobre três aspectos principais: o hospital psiquiátrico, seu fechamento e o destino dos egressos sem laços familiares. Apoiamo-nos na Teoria das Representações Sociais (TRS) para discutir nossos dados neste estudo inicial e observamos que o hospital psiquiátrico se constituiu como referência para os participantes, representado como casa de recuperação dos doidos, lugar necessário, principalmente, em função da existência do doido perigoso. Os participantes demonstraram descontentamento com o fechamento, mas ao mesmo tempo, apresentaram uma postura favorável à sua desativação, fundamentada na convivência com egressos que habitam a vizinhança nas RTs, representados como não agressivos. Contudo, os participantes sugerem que as RTs sejam transferidas para locais afastados, tais como casas-chácara. No segundo estudo, com auxílio da Teoria da Identidade Social (TIS), abordamos as concepções sobre a convivência com as RTs, as quais foram concebidas como locais que exercem certo controle sobre os moradores, desempenhando, nessa visão, o papel do hospital
11 psiquiátrico. Além disso, a presença das RTs no bairro possibilitou que o pessoal de fora classificasse aquele local como o conjunto dos doidos, refletindo negativamente na identidade social dos participantes. Essa pode ter sido uma razão que justificou a tendência à diferenciação intergrupal na relação entre participantes e os moradores das RTs observada no discurso, podendo ser compreendida como uma necessidade decorrente do processo de identidade social. Antigos estereótipos associados à loucura, como a periculosidade social, foram desfeitos a partir da convivência cotidiana. Mesmo com a tendência à separação, há um movimento que aponta para a possibilidade da coexistência sem maiores conflitos entre os grupos envolvidos, ilustrando a ambiguidade das relações, pois no contexto da convivência com RTs, não tem fórmula de bolo. Por fim, no terceiro estudo, debatemos as representações sociais da interação com moradores das RTs e utilizamos de forma conjunta a Teoria da Identidade Social e a Teoria das Representações Sociais. Os participantes conhecem os moradores das RTs de vista e, além disto, estes são reconhecidos por apelidos e também pelo próprio nome. A circulação pelos espaços públicos do bairro possibilitou o diálogo com os participantes, contudo, restrito aos encontros passageiros: a gente passa, oi prá lá, oi prá cá. Os relatos que indicam a criação de vínculos coexistem com as representações sociais que sustentam a limitação dos moradores para o diálogo. Entendemos que essa representação social dos moradores como limitados para a conversa possui função específica e importante para os participantes, relacionada aos processos de constituição identitária. Estamos diante de uma realidade ambígua que apresenta o desejo de separação intergrupal, mas também revela as chances para a interlocução entre loucura e espaço público, mesmo que por meio de condições como o distanciamento e a ligeireza das relações. Garantir que a casa da loucura seja o espaço comum é essencial nesta 12 discussão, o que implica na participação social dos moradores e sua frequência na esfera pública.

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