SOFRIMENTO E PRAZER - UMA ANÁLISE PSICODINÂMICA DO TRABALHO PRISIONAL
Resumo: A pesquisa teve como objetivo geral analisar o sofrimento psíquico resultante do confronto entre os inspetores de segurança prisional com a organização de trabalho e os processos intersubjetivos mobilizados por estes trabalhadores nas situações de trabalho. Como objetivos específicos, verificar de que forma a organização do trabalho contribui para a produção de sofrimento e/ou prazer, adoecimento ou risco para a saúde mental desses profissionais; buscar caracterizar as regras de ofício do trabalho do inspetor penitenciário, englobando as regras prescritas e reais de seu trabalho; compreender como vêm se operando as mobilizações subjetivas interpostas na dinâmica da organização do trabalho: a criatividade, a cooperação, a confiança, o reconhecimento e seus efeitos no processo saúde-doença dos trabalhadores; identificar, através do discurso, se há estratégias coletivas e individuais mobilizadas pelo coletivo de trabalho; e, por fim, analisar como, e se, a Organização utiliza estrategicamente ou, pelo contrário, desarticula tais defesas e, e quais os efeitos na saúde dos trabalhadores. Conforme a abordagem da psicodinâmica do trabalho, proposta por Christophe Dejours, o núcleo central da clínica do trabalho, já após ter ultrapassado a psicopatologia do trabalho, não é mais o sofrimento, consubstanciado a toda situação laboral, e sim o que se faz a partir dele, ou seja, a psicodinâmica dos processos intersubjetivos mobilizados pelas situações de trabalho. O método e a análise dos dados em que se baseou a pesquisa foram a psicodinâmica do trabalho, seguindo três etapas: a pré-pesquisa, a pesquisa e a validação. Foram realizadas dezenove entrevistas individuais com participantes que obtinham as características de grupo homogêneo, mediante roteiro semiestruturado. Os dados foram analisados a partir da transcrição na íntegra e análise das verbalizações, e posteriormente classificados em três eixos: organização do trabalho, mobilizações subjetivas e vivência de prazer e sofrimento. Através da análise dos dados verificou-se que o coletivo de trabalhadores penitenciários encontra-se fragilizado em razão da prática de dois tipos de contratação; a divisão do coletivo parece afetar as mobilizações como a cooperação e o reconhecimento, assim como as práticas de gestão baseadas no individualismo e apadrinhamento e não meritocrática sugerem o reforço destas manifestações de trabalho pouco solidário e cooperativo, promovendo as defesas de exploração; as estratégias e defesas tendem a se restringir conforme a divisão do grupo (contrato), mediadas pelas diferentes formas de admissão, impedindo que sejam partilhadas de maneira geral pelo coletivo, de forma que as mobilizações e defesas individuais sejam mais evidenciadas do que as coletivas; dentre as exceções, a ideologia defensiva contra o medo demonstra ser partilhada pelo coletivo de maneira maciça. O prazer vivenciado por determinada parcela dos participantes parece estar associado à produção de sentido do trabalho voltado para a transformação e reintegração social dos apenados, o que é associado ao fortalecimento da identidade quando em concordância com a realização pessoal.
Data de início: 01/03/2013
Prazo (meses): 30
Participantes:
Papel | Nome |
---|---|
Aluno Mestrado | JAQUELINE OLIVEIRA BAGALHO |
Coordenador | THIAGO DRUMOND MORAES |