"DESOBEDIÊNCIA ÀS ORDENS DE VOSSA EXCELÊNCIA QUE PODEM NOS DESTRUIR": ENTRE PRÁTICAS NECROPOLÍTICAS E PRÁTICAS DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL. ESCREVIVENDO POSSIBILIDADES DE EXISTÊNCIA NA ESCOLA.

Nome: ISABELLA DE ALMEIDA CONSTANTINO VENTUROTI

Data de publicação: 31/10/2024

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
JACYARA SILVA DE PAIVA Examinador Interno
JESIO ZAMBONI Presidente
MARIA DE FÁTIMA LIMA SANTOS Examinador Externo

Resumo: O desafio que se coloca nesta escrita diz respeito a análise de como as práticas necropolíticas se
manifestam no cotidiano escolar enquanto política de subjetivação e quais seus desdobramentos
na saúde mental de adolescentes e jovens negros e periféricos; busca-se compreender ainda,
como essas práticas têm produzido discursos individualizantes acerca do adoecimento psíquico.
Em um período de aproximadamente três meses, “ocupamos e resistimos” junto a adolescentes
e jovens de ambos os gêneros, com idades entre 16 e 19 anos, multirraciais e ingressantes no
último ano do ensino médio integrado ao curso de Administração (3 ADM I), da Escola
Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) “Aristóbulo Barbosa Leão”, situada no
município de Serra/ES. Fundamentado em Fanon (1968) entendemos que, a manifestação do
sintoma, embora acometa de forma individual, tem origem no social, e que o processo de
colonização produziu, como efeito, uma espécie de esquizofrenia racial alienadora da pessoa
racializada enquanto projeto desumanizador deixando marcas subjetivas. Sendo assim,
atentar-se para a fragilização da saúde mental da juventude negra, através da manifestação de
condutas autolesivas e desejo de autoextermínio, considerando que as práticas necropolíticas no
cotidiano escolar constroem as condições para o adoecimento psíquico destes, visando analisar
tais desejos como efeito dessas práticas e das políticas de inimizade. Surgindo como impasse
acerca da “escolha” pela morte como “opção” de interrupção desta dinâmica de exploração nos
quais estão colocados, a partir dos acontecimentos do campo, convém questionar: se no contexto
biopolítico os desejos de autoextermínio tomam ares de “transgressão política” (Almeida, 2019)
por meio dos mecanismos de Estado que “fazem viver” através da potencialização produtiva da
vida, e “deixam morrer” através do racismo de Estado, como podemos localizá-los enquanto
efeito no contexto necropolítico? Se no mundo biopolítico viver é a norma e o natural é produzir
vida, no mundo necropolítico morrer seria a norma e o natural seria matar e produzir desejos de
autoextermínio? Através de relatos escritos e/ou narrados, ora do diário de campo da
pesquisadora, ora do diário de campo dos participantes, a escrevivência apresenta-se como
caminho metodológico instando a analisar as práticas necropolíticas no cotidiano escolar como
políticas de subjetivação. A aposta na escrevivência tem como premissa promover o aumento na
capacidade de existência de jovens negros periféricos em seu cotidiano escolar, entendendo a
escola não como uma entidade, mas como a junção de sujeitos compreendendo que aqueles que
compõem a escola são a escola. Colocar a escola em análise tem como pressuposto observar
quais relações de poder se manifestam dentro dela e de que forma essas se aprimoram no
decorrer dos anos balizando práticas e perpetuando visões de mundo adoecidas e adoecedoras.
Pensar a necropolítica é essencial para o exercício da Psicologia dentro das escolas brasileiras,
visto que sua consequência tem sido o enfraquecimento da saúde mental de adolescentes e
jovens negros e periféricos. Sendo assim, analisar a necropolítica voltada às práticas cotidianas é
afirmar que é entre os pares, no dia-a-dia, que a necropolítica aparece, e não numa política geral,
universal, de instâncias superiores.

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