RESILIÊNCIA PARENTAL E RELAÇÃO ENTRE PAIS E FILHOS ADOLESCENTES COM FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE
VULNERABILIDADE SOCIAL: UM ESTUDO COM INTERVENÇÃO
Nome: CLARISSE GABRIELLE TIMBÓ COELHO RAMOS
Data de publicação: 27/09/2024
Banca:
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Papel |
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CARINA NUNES BOSSARDI | Examinador Externo |
CELIA REGINA RANGEL NASCIMENTO | Presidente |
FABIANA PINHEIRO RAMOS | Examinador Interno |
Resumo: A resiliência parental diz respeito a um processo dinâmico que possibilita aos pais ou cuidadores
a praticar uma educação segura, atenta às necessidades dos seus filhos, promovendo uma relação
de confiança, proteção e afeto, apesar de viverem em ambientes potencialmente adversos ou
estarem em condições desafiantes. Quando os filhos estão na etapa evolutiva da adolescência, o
exercício da parentalidade pode apresentar novos desafios. Especialmente quando se trata de uma
família em situação de vulnerabilidade social, as dificuldades na relação podem se ampliar, pois a
atenção que a prática parental exige compete com a atenção que precisa ser oferecida às demais
atividades para garantia do suprimento de necessidades básicas, como moradia e alimentação.
Nesse sentido, promover a resiliência parental repercute diretamente na qualidade da relação
familiar e no desenvolvimento saudável dos filhos. Assim, esta pesquisa de caráter qualitativo e
quase experimental, teve como objetivo investigar a perspectiva dos pais ou cuidadores sobre a
relação com seus filhos adolescentes em famílias em situação de vulnerabilidade social, bem como
as repercussões do Programa “Viver a Adolescência em Família” no desenvolvimento de
competências que compõem a resiliência parental. Participaram do estudo cuidadores que
desempenhavam o papel de mãe dos adolescentes, acessados em dois contextos diferentes: mães
de adolescentes entre 12 e 18 anos, que frequentavam uma Organização da Sociedade Civil (OSC)
em uma cidade do estado do Espírito Santo, e mães de adolescentes entre 12 e 18 anos,
matriculados em uma escola pública em uma região periférica da mesma cidade. A pesquisa se
desenvolveu em três etapas: na primeira, foram entrevistadas 20 participantes do grupo OSC,
sendo 18 mães e duas avós, e oito participantes no grupo da escola, sendo sete mães e um pai. As entrevistas foram presenciais e individuais, com duração aproximada de uma hora. Durante esse encontro, foram aplicados dois questionários, um
contendo perguntas para caracterização do perfil dos participantes, e um para avaliar o
envolvimento dos pais com filhos em idade escolar, abrangendo dimensões sociais, disciplinares,
educativas e afetivas. Na mesma ocasião, foi conduzida uma entrevista semiestruturada inicial com
perguntas relacionadas à adolescência e à relação que os cuidadores possuíam com seus filhos. A
segunda etapa consistiu na aplicação do programa de parentalidade, com participação de 11
participantes no total, do grupo da OSC, no qual foram aplicados os três primeiros módulos da
intervenção, totalizando 13 encontros que ocorreram semanalmente e duraram em média 2 horas
e 30 minutos. Ao término de cada encontro, era entregue a cada cuidador uma Escala de
Monitoramento da Satisfação dos Participantes frente à Intervenção que continha um item único
sobre o nível de satisfação com o encontro daquele dia, com espaço destinado à justificativa da
resposta, a ser preenchida individualmente. Para esta etapa, também era preenchido um Diário da
Sessão, no qual a pesquisadora e as duas auxiliares previamente treinadas registravam dados
observados em cada encontro. Houve uma variação no número de pessoas em cada encontro. No
total, apenas 11 mães (55% das que participaram da primeira etapa) compareceram às reuniões
pelo menos uma vez. Entre essas 11, somente seis (54,5% dos que iniciaram a segunda etapa)
concluíram até o primeiro módulo (quatro encontros) e apenas quatro (36,4%) persistiram até o
terceiro (13 encontros). Diante desse cenário, considerando o baixo número de participantes, o
grupo na escola foi constituído. Nele, seis participantes (75% dos que participaram da primeira
etapa) avançaram para a segunda etapa (intervenção), a qual também ocorria semanalmente e era
realizada em um espaço cedido pela escola. Dos seis que iniciaram a intervenção, somente quatro
(66,7% dos que iniciaram a segunda etapa) se mantiveram engajados nos encontros subsequentes. Portanto, em virtude do reduzido número de participantes, optou-se por aplicar apenas o primeiro
módulo nesse segundo grupo. A terceira e última etapa foi realizada com seis participantes do
grupo da OSC (dois que finalizaram o primeiro módulo e quatro que ficaram até o terceiro), e
quatro participantes do grupo escola que concluíram o primeiro módulo. Esta etapa ocorreu de
forma individual e presencial, com duração média de uma hora, onde foi aplicado um questionário
abordando aspectos relacionados à satisfação com a intervenção, um questionário que avaliava o
envolvimento dos pais com filhos em idade escolar, e uma entrevista com roteiro semiestruturado,
contendo questões relacionadas à adolescência e à dinâmica das relações entre os cuidadores e
seus filhos após a intervenção. Os dados iniciais e finais foram comparados para verificar as
possíveis repercussões da participação no programa. Os resultados da primeira entrevista
mostraram que as mães acreditavam ser sua responsabilidade assumir a educação/orientação e o
cuidado com os filhos. No quesito comunicação com os filhos, demonstraram que este aspecto
ocorria principalmente com ênfase no aconselhamento. Quanto a expressão do afeto, indicou-se
que se dava principalmente por meio de cuidado e atenção. Além disso, notou-se que os fatores
contextuais do ambiente, bem como características individuais delas e dos filhos, influenciavam
diretamente na prática parental e ainda que as mães continuavam a ter influência no
comportamento dos filhos, mesmo com o aumento da autonomia na adolescência. Notou-se nos
relatos que as mães tinham inseguranças em relação a suas práticas parentais. Quanto às
repercussões do programa de intervenção, os dados apontaram o aumento da confiança, com os
relatos demonstrando o senso de autoeficácia das mães. Considera-se que a confiança em seu papel
e em suas competências foi favorecida como resultado de um conhecimento maior sobre a
adolescência e da adoção de novas estratégias de resolução de conflitos bem-sucedidas. Houve
desenvolvimento de empatia por parte das mães e ampliamento da percepção de que suas ações repercutiam nos filhos. Todos estes aspectos se relacionam com os indicadores da resiliência
parental, evidenciando que o programa teve êxito em seu objetivo.