Trabalho, Igreja e Boteco: Identidades em Transformação Entre Descendentes de Pomeranos do Espírito Santo

Nome: JAMILY FEHLBERG
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 08/12/2011
Orientador:

Nomeordem decrescente Papel
PAULO ROGÉRIO MEIRA MENANDRO Orientador

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
LÍDIO DE SOUZA Examinador Interno
LUZIANE ZACCHÉ AVELLAR Examinador Interno
MARIANA BONOMO Examinador Interno
OSWALDO HAJIME YAMAMOTO Examinador Externo
PAULO ROGÉRIO MEIRA MENANDRO Orientador

Resumo: Descendentes de imigrantes pomeranos constituem maioria populacional no município de Santa Maria de Jetibá, na região serrana do Espírito Santo. Parte deles vive em relativo isolamento social em suas propriedades rurais, muitos trabalhando em sistema de agricultura familiar, e parte vive na sede do município, predominando o trabalho em atividades de comércio e outros serviços. Em seu cotidiano, diversos aspectos da cultura de origem foram preservados, inclusive a língua pomerana, após transcorrido quase um século e meio desde a chegada dos primeiros imigrantes. Ao longo do tempo os descendentes de pomeranos precisaram conviver, em diversas situações, com outros habitantes distintos quanto à formação cultural e que, em termos práticos, se consideravam como sendo os verdadeiros brasileiros. Dessa convivência e da adaptação que ela exigiu resultaram processos grupais de diferentes modalidades. Dependendo das condições concretas vividas, grupos de descendentes podem, por um lado, ter ampliado seu isolamento social ou, por outro, ter concretizado integração satisfatória com os demais moradores. Em função de eventos históricos - políticos, econômicos e culturais - com as quais se articulam esses processos, ocorreram oscilações na valorização de itens da cultura de origem (tanto entre descendentes como entre não-descendentes). Resultaram daí interferências diretas nas relações interpessoais e intergrupais, influenciando a forma como os descendentes se comparam com outros grupos, se auto-avaliam, percebem seu nível de identificação com o próprio grupo, identificam problemas a serem enfrentados na comunidade e elaboram planos para o futuro. O foco do presente estudo está em tais processos e em eventuais regularidades entre eles e o contexto de vida dos participantes do estudo, o que inclui: região que habitam, faixa etária, escolarização e grau de imersão na cultura e na língua pomeranas. Com tal objetivo, buscou-se, sempre considerando sexo, faixa etária e zona de moradia dos participantes, conhecer como eles descrevem diversos aspectos de seu cotidiano: trabalho, outras atividades cotidianas, arranjos familiares, configuração das moradias, religião, uso das línguas portuguesa e pomerana, práticas culturais pomeranas ainda adotadas, lazer, amizades, percepção de outros grupos, dificuldades da comunidade, perspectivas de futuro divisadas. Foram entrevistados trinta e seis descendentes de pomeranos, alguns sem domínio da língua portuguesa. Dezessete vivem na região rural (sete mulheres e dez homens dez na faixa etária 23/35 anos e sete na faixa 50/62 anos). Os outros dezenove vivem na sede do município (dez mulheres e nove homens onze na faixa etária 22/40 anos e oito na faixa 48/63 anos). Um aspecto inicial a destacar é o fato dos resultados terem proporcionado atualização de informações sobre a realidade em que vivem esses descendentes que permanecem na zona rural ou no núcleo urbano do município. Os resultados confirmaram também que muitas práticas culturais dos imigrantes pioneiros ainda são adotadas. Isto é mais evidente, em especial entre moradores do campo, nas seguintes esferas: uso extensivo da língua pomerana; alimentação baseada em receitas e produtos típicos; pouca informação e despreocupação em relação à saúde; taxa de suicídios elevada; forte vínculo com a religião luterana; envolvimento da comunidade nas cerimônias e festas de casamento; predomínio de escolha intra-étnica de parceiros amorosos; normas próprias de transmissão de bens; configuração tradicional típica das relações que articulam gênero, família e trabalho; e centralidade do trabalho na vida de cada família. Constatou-se também existência de baixa escolaridade, de prática rotineira de consumo abusivo de bebida alcoólica, e de vivência de experiências relacionadas a reações preconceituosas inter e intra-grupais - mais freqüentemente como alvo, mas também como agente. Tais constatações indicam tanto a força da herança cultural como o caráter incisivo das restrições que a comunidade viveu relativas à integração com outros grupos. Em vários desses aspectos os resultados diferem quando são comparados homens e mulheres, ou moradores do campo e moradores da cidade, ou participantes jovens e idosos. Como esse conjunto de elementos pode ter atuado na construção da identidade social dos descendentes e como permanece atuando na atualização dessa identidade constituem indagações que a análise dos dados buscou contemplar.

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