Psicanálise e literatura: vias de um enlace possível

Resumo: A investigação se insere na interface entre a teoria psicanalítica e a literatura seguindo as diretrizes propostas por Freud e Lacan. A noção freudiana do “umbigo do sonho” estabelece o limite entre o campo da representação e seu além. A noção lacaniana de “letra” lhe é correlativa. Ambas as noções apontam para um limite entre os dois registros, do simbólico e do real, indicando que o encontro com esse ponto de furo na cadeia significante, ausência de saber, exige uma criação. Nisso, a psicanálise se aproxima do escrito literário considerado por ela uma criação do mesmo tipo que as formações do inconsciente. Entretanto, há diferenças entre escrito e formações do inconsciente. O projeto propõe um cotejamento entre a teoria lacaniana e a novela de Clarice Lispector A hora da estrela, com o intuito de delimitar aproximações e afastamentos. Visa-se contribuir com uma nova perspectiva de abordagem da noção de sintoma e, ao mesmo tempo, demonstrar uma das muitas maneiras pelas quais se pode aproximar do texto literário pela via da psicanálise.
Trata a presente pesquisa da continuidade do percurso iniciado pela autora em seus trabalhos de Mestrado (O limite da linguagem: a dimensão do impossível na escrita de Clarice Lispector, 2000) e Doutorado (Contornos do indizível: o estilo de Clarice Lispector, 2005), tendo o segundo se desdobrado na publicação O indizível em Clarice Lispector: uma leitura em interface com a psicanálise (2012).
O desdobramento da pesquisa ora proposto se abre para a inclusão de um momento da teorização lacaniana ainda não explorado pela autora, que promete uma nova abordagem de A hora da estrela (1977/1999), obra considerada por nós o ápice do aspecto que nos interessa na escrita clariceana. A noção de letra ainda nos será valiosa, pois constitui passagem necessária para a teoria final acerca do sintoma e dos Nomes-do-Pai em Lacan. A Letra será abordada desta feita incluindo O seminário 18, “De um discurso que não fosse semblante” (1971/2009) e Les non-dupes errent (1973/1974 – Seminário 21, inédito). O sintoma será trabalhado a partir de O seminário, Livro 23 (1975-1976/2007), texto contemporâneo da novela de Clarice Lispector. O limite do simbólico ou o indizível, por sua função nos escritos de Clarice, nos permitiu uma aproximação com o real de Lacan. Pode-se considerar que tal conceito tenha sua origem, pelo menos em parte, em Freud equivalendo em alguns aspectos ao recalque originário. A noção de letra também nos parece ser procedente da releitura que Lacan se propõe a fazer da obra de Freud. Podemos identificar seus alicerces no “umbigo dos sonhos”, ponto que impõe limite às associações do paciente em análise, constituindo uma dobradiça entre essas e a impossibilidade de dizer mais a respeito do sonho.

Data de início: 01/08/2016
Prazo (meses): 12

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